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  • Foto do escritorVilmar Bueno, o ESPETO

Textos da saudosa escritora Sinira Damaso Ribas - 1944 - 2021

Papanduva/Região do Contestado


"Penso que concluí a minha crônica que me foi solicitada pela Academia de Letras de Canoinhas. 26 de abril de 2018"

TROPEIRISMO Entre os heróis do pódio da história do Brasil, o tropeiro se destaca. Nós que moramos nos municípios do Caminho das Tropas podemos nos orgulhar de termos sido espectadores das tropas que passaram à nossa frente pelos nossos terreiros, nossos lageanais indo e vindo do extremo sul às regiões de feira e comércio no Brasil central. Muito já escrevi sobre tropeirismo, inclusive um romance histórico, o Amor do Tropeiro nos Caminhos do Sul, drama de paixão e aventura em que a ficção e a realidade se unem para entreter e instruir o leitor. O tema é inesgotável, mas sempre de relevância, uma vez que nos remete ao embrião de nossa história na região sul do país. Nossas escolas precisam aquilatar o que é nativo para que se aprenda a valorizar o trabalho de quem promoveu a cultura nos sertões brasileiros. Quero escrever mais um pouco sobre nossa cultural riqueza, plural em sua essência nesta região do Brasil que apresenta características singulares muito diversas do restante do território brasileiro. Entre os ciclos econômicos de um país ainda em formação, destacamos o tropeirismo, pela importância econômica e social.


Como iniciou o ciclo do Tropeirismo Com a descoberta do ouro nas Minas Gerais e a ocupação das regiões mineradoras, houve demanda de animais para transporte de alimentos e trabalho nas minas. A mula era o único animal apropriado na exploração e carregamento de minério. Eis que surgem comerciantes intermediários para levarem esses animais do sul para o centro do País. Mas não havia passagens para que estes animais fossem levados. Necessário se fazia a abertura de um caminho por terra, do sul até os locais de comercialização. Aí entra para a história gloriosa do Tropeirismo, a figura de Francisco Souza e Faria abrindo em 1730 a primeira expedição saindo de Laguna, litoral de Santa Catarina com direção a São Paulo. Em 1732, Cristóvão Pereira de Abreu reuniu diversos homens para fazer a retificação da rota de Souza e Faria, conduzindo 1300 cabeças de mulas e cavalos de Viamão até Sorocaba. Foi assim que Pereira de Abreu entrou para a história como o pioneiro do tropeirismo. Muito voltada para a extração do ouro, a região das minas de ouro no século XVIII tinha uma produção de alimentos muito baixa. Assim os tropeiros vendiam e transportavam alimentos para suprir estas necessidades. Outra importância da atuação dos tropeiros além de abrir estradas era fundar vilas que se originavam de entrepostos e feiras comerciais que futuramente se transformaram em cidades. Para a região sulina o tropeirismo foi um ciclo de vital importância. Criadores e lavradores luso-brasileiros provindos dos Campos Gerais e São Paulo, através da Estrada das Tropas, com suas mudanças transportadas em dorso de muares, chegavam até nossas paragens trazendo na algibeira os documentos de doação de sesmarias e se instalavam em áreas do planalto. Os tropeiros partiam das campanhas gaúchas tão logo terminasse o inverno, quando rebrotavam os pastos ressequidos pelas geadas. Viajavam lentamente, parando mais nos locais em que as pastagens fossem melhores, como no sopé da Serra do Espigão em Santa Catarina. Aí se encaixa a importância do capim Papuã, característico da região, o que determinou o nome do local das melhores pastagens de “Papanduva”. O farto pasto fazia com que a mulada chegasse à feira anual de Sorocaba em boas condições, o que propiciaria melhores preços. Normalmente, em fins de março, as tropas já se encontravam nos campos que iam desde Sorocaba até Itapetininga, fechadas em um encosto, lugar apertado entre dois rios, montanhas, barrancos ou matas cerradas, deixando apenas o lado da entrada para que os peões procedessem à ronda contínua, a fim de evitar o extravio dos animais. A famosa feira era o ápice desta epopeia e dali os animais seguiam novas rotas e ao seu melhor destino. A epopeia das tropeadas são descritas de diversas formas. Saliento aqui somente a importância deste ciclo para a formação, entre muitos outros, do meu município - Papanduva em Santa Catarina. Transcrevo aqui um conto encaixado no meu livro O Amor do Tropeiro, para ilustrar esta modesta crônica. Acrescento ainda um conto extraído do meu blog. Alguns outros sobre o tema poderiam se seguir.

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